Carlos da Fonseca (1940-2017)

sexta-feira 12 de Maio de 2017, por Júlio Henriques

Carlos da Fonseca (1940-2017)

Morreu esta semana, aí em Paris, o historiador Carlos da Fonseca que escreveu alguns dos livros fundamentais sobre a história do movimento operário e do anarquismo em Portugal. Embora viesse do marxismo radical evoliu para uma posição libertária. Junto uma pequena biografia feita por um companheiro nosso.

Letra Livre, Eduardo 12.05.17

[Consultar também:

https://ephemerajpp.com/category/arquivo/fundo-carlos-da-fonseca-doacao-fundacao-calouste-gulbenkian/]

O historiador Carlos da Fonseca faleceu em Paris, no dia 9 de Maio, na sequência de uma doença com que se debatia, quase secretamente, há muitos anos, e que a partir de certa altura muito debilitou a sua actividade de autor.

Historiador do movimento operário e do anarquismo em Portugal, lega-nos, em particular neste domínio, uma obra considerável, das reedições comentadas de «textos esquecidos» aos quatro volumes, essenciais, da sua História do Movimento Operário e das Ideias Socialistas em Portugal (Europa-América), passando por volumes como Integração e Ruptura Operária (Estampa). Os seus últimos livros conhecidos, Para uma Análise do Movimento Libertário em Portugal e O 1º de Maio em Portugal, foram publicados pela Antígona.

Carlos da Fonseca nasceu em Peniche, onde começou a trabalhar aos 11 anos de idade, passando por diversos e provisórios ofícios. Nos anos 60, refractário ao exército colonial, exilou-se em França, onde fez longos estudos universitários, primeiro na Universidade de Paris VIII (Vincennes), depois na École Pratique des Hautes Études, onde se acentuou a sua vocação investigativa. Foi professor de história e cultura portuguesa na Universidade de Paris VIII e, posteriormente, na Sorbonne.

Personalidade de uma obstinada discrição, pode aplicar-se-lhe o verso programático de Luiza Neto Jorge «Não me quero com o tempo nem com a moda». Mas a sua veia satírica, embora pouco exposta, surgiu por vezes em textos não assinados como «Desratização», publicado na revista Pravda, em que investe contra os «fabricantes de opinião»: «Subindo pelos canos de esgoto do vedetariado servil, invadiram a imprensa, instalando-se nas redacções, para daí contagiarem, com visível perigo sanitário, as crédulas populações, através de doses de informação mercenária».

A sua obra de historiador rigoroso e influente está a necessitar de uma atenção redobrada. Nestas toscas linhas, daqui saudamos a sua memória de homem inteiro.

Júlio Henriques